O que parecia uma simples casa na rua Arthur Barbosa, no bairro Caxambu, em Petrópolis, na verdade era um centro clandestino de tortura e assassinatos. Na década de 70, os órgãos de repressão da ditadura militar levavam presos políticos para o imóvel, que ficou conhecido como Casa da Morte. Qualquer pessoa que discordasse do regime militar, que lutasse contra ele ou se organizasse para combatê-lo, era considerada como inimiga. De acordo com estimativas oficiais, pelo menos 22 presos políticos não resistiram às torturas e foram executados no local.
Imagine viver sem liberdade de expressão, sem poder escutar as músicas ou ler os livros que quisesse e sem poder escolher seus representantes políticos? Além de tudo, também não era possível reclamar sobre os abusos e violações do Estado, já que não havia órgão independente para investigar. Quem quisesse fazer uma denúncia para um jornal, por exemplo, também não conseguia pois não havia liberdade de imprensa. Em outras palavras, discordar do regime militar e expressar as próprias opiniões podia ser um erro fatal. Essas páginas infelizes na nossa história foram escritas em muitos lugares e a Casa da Morte foi um deles.
A única sobrevivente
Tortura, violência física e sexual marcaram os 96 dias que Inês Etienne Romeu passou na Casa da Morte. Conforme os relatos, ela foi presa e torturada por participar de um movimento contra a ditadura militar e foi a única que saiu com vida da casa. Anos depois, Inês contou todos os horrores que viu e viveu no local. A Casa da Morte foi descoberta graças às revelações feitas por ela e desde então o espaço passou a ser uma grande marca do período na cidade de Petrópolis.
Para quem não acredita nos relatos de Inês, há também a confissão de um dos agentes que atuou na casa, o tenente-coronel reformado Paulo Malhães, conhecido como “Doutor Pablo”. Malhães quebrou o silêncio em 2014, quando falou sobre a Casa da Morte e admitiu que torturou, matou e escondeu cadáveres de presos políticos que passaram por lá. No entanto, as vítimas foram dadas como desaparecidas e até hoje os corpos não foram encontrados, o que é motivo de revolta para muitas famílias.
O que nós temos a ver com essa história?
Foram 21 anos sem democracia. Um período de retrocesso, violência e intolerância. Mesmo assim, ainda é comum ver pessoas que insistem em dizer que querem a volta da ditadura no Brasil. Por que será que isso acontece?
Acredito que a falta de informação e de reflexão sobre esse período seja um dos principais motivos. Relembrar esse passado triste, entender o que realmente aconteceu no período e conscientizar a população sobre a defesa da democracia é importante. Só assim toda a população pode ter a real dimensão do que foi a ditadura militar brasileira.
Defender a democracia é um papel de todos nós. É assim que vamos garantir a nossa liberdade, o nosso direito de escolher os nossos representantes através do voto e de poder discordar deles sem sofrer represálias. A defesa da democracia é a defesa das instituições, é a defesa da Constituição brasileira.
Popularizar o debate sobre um lugar tão simbólico quanto a Casa da Morte é conscientizar sobre todas as violações de direitos que aconteceram na ditadura militar brasileira. Precisamos falar sobre isso, afinal um povo que não conhece a sua própria história está condenado a repeti-la.