“Desprezar o ensino superior, a pós-graduação e a pesquisa é apostar na miséria, na violência e num futuro sem perspectivas positivas. Forçar o fechamento da UERJ é não pensar no futuro de nosso estado e de nosso país. A UERJ e o Estado são perenes, os governantes não”.
Com estas palavras, o reitor Ruy Marques encerra a carta aberta à população intitulada “A UERJ e o Futuro do Rio de Janeiro”, que vai também assinada pela Vice-Reitora Maria Georgina e pelos demais ex-reitores eleitos pela comunidade acadêmica.
A UERJ é lugar de livre pensamento, produção das ideias e inovação. Hoje também é lugar de resistência. A sede da então chamada de Universidade do Distrito Federal veio à custa de uma violenta desocupação da antiga favela do Esqueleto, com uma transferência compulsória da população fragilizada até a Vila Kenedy em Bangu.
Já com quinze anos de vida, a Universidade emerge no Campus do Maracanã, carregando o fardo de uma imensa dívida social. Inimaginável, não dimensionável e muito menos, a princípio, pagável.
Ao longo dos anos de ditadura, muitos docentes se destacaram na luta pela redemocratização do Brasil, dentre eles podemos destacar professores do Velho Casarão do Catete, que sediava a Faculdade de Direito e que exerceram a defesa de inúmeros presos políticos.
Resistência.
A própria arquitetura compartimentalizada do prédio, segundo alguns, foi dolosamente pensada para desfavorecer a integração e mesmo o direito de reunião. Mas a frieza do concreto foi insuficiente para impedir as mentes esclarecidas de professores, funcionários e alunos que souberam se unir e colocar a instituição no patamar de uma das melhores do país.
Segundo a conceituada Times Higher Education de 2016 a UERJ está em 11º lugar do Brasil e é a 20ª entre todas as universidades da América Latina. No ranking das universidades brasileiras, da Folha de São Paulo, a inserção de seus alunos no mercado de trabalho é a 8º maior do país. No quesito de produção científica, é a 9ª.
A Universidade do Estado nunca teve recursos de sobra, mas isso não impediu sua expansão para o Município de Resende onde foi indutora do polo metal mecânico do sul do Estado.
Sem contar os campos de Nova Friburgo, São Gonçalo, Teresópolis e Petrópolis, todos de imensa valia ao desenvolvimento humano, à mobilidade social e a educação superior de milhares de jovens, que cultivam seus sonhos de atingirem a graduação e seguirem em frente nos estudos.
O Hospital Pedro Ernesto é um dos maiores do país, referência em diversos tratamentos e combate a diversas doenças, dando sua contribuição não somente à área da extensão universitária, mas para todo o desenvolvimento científico, somando-se aos demais institutos voltados à pesquisa pura ou aplicada.
A UERJ produziu centenas de milhares de profissionais e estudiosos que levam conhecimento não só pelo Brasil, mas também ao exterior, graças aos conhecimentos vivenciados no interior destas paredes.
Por isso, sua importância é indiscutível ao Brasil como nação política; que encarna suas contradições, como são todos os países democráticos do planeta, todavia absolutamente singular, com um povo criativo, brilhante e versátil que precisa, tão somente, identificar sua trilha e ater-se a ela, ao longo da história.
A UERJ nasceu sob o manto da dívida social para com uma parcela específica do povo fluminense e hoje, numa melancólica ironia, sofre a maior crise de sua história, como titular de um montante de dívidas financeiras – que não são na verdade dela, mas do governo estadual, como a primeira também nunca o foi.
Quanto a dívida social, a UERJ pagou e continua a pagar com a produção científica e as inúmeras ações de extensão universitária, oferecendo excelência e buscando ser melhor a cada dia.
Este prédio deposita nada menos do que o sonho de 35 mil jovens e este é o único e verdadeiro patrimônio do Brasil: A educação e a produção científica! É este binômio que tira qualquer país da crise. São estes dois alicerces que farão nosso país sair do modelo econômico onde se produzem bens, todavia com toda a tecnologia vindo do exterior.
Tenho a sensação de que a população brasileira, com a exceção de um grupo mais aguerrido de líderes e cidadãos indignados, parece estar um tanto atordoada com a crise econômica e a retirada de direitos sociais adquiridos ao longo de décadas de militância política em defesa do trabalhador, onde a universidade brasileira sempre esteve ao lado do bom combate.
Tenho a mais firme convicção que, em um momento de crise que os cidadãos fluminenses estão neste instante, se sensibilizarão e unirão esforços para o enfrentamento desta situação que, quero crer, será resolvida e fará a UERJ sair mais forte, unida e valorizada.